“Não é possível um Bispo que não caminhe junto com o Papa”

“Não é possível um Bispo que não caminhe junto com o Papa”

Desde o dia 03 de setembro, Dom Manoel Ferreira dos Santos Júnior, MSC, bispo diocesano de Registro, participou, em Roma, de um Curso Anual de Formação, promovido pela Congregação dos Bispos. Estiveram no encontro, mais de 300 novos bispos, ordenados no último ano, sendo 13 deles provenientes do Brasil. O encerramento se deu nesta quinta-feira, 12, em Audiência com o Papa Francisco, ocorrida na Sala do Consistório, no Vaticano.

Em entrevista, concedida diretamente de Roma, dom Manoel destaca suas principais impressões a respeito dos dias de formação na Cidade Eterna e do encontro pessoal com o Papa Francisco.

Como foi a experiência de encontrar o Papa Francisco?
Dom Manoel Ferreira dos Santos Jr, MSC: O encontro com o Papa Francisco foi o ponto mais alto do nosso curso. Fomos ao encontro de Pedro, que tem tantas ideias novas, desejoso de fazer que a Igreja se abra cada vez mais para a missão, para o serviço dos povos, para a defesa dos pobres, para a evangelização da Amazônia. Encontrar-se com ele significa exatamente confirmar que estamos juntos com ele, juntos na barca da Igreja e queremos remar! É emocionante estar com esse homem que, com 82 anos, acaba de chegar de uma Viagem Apostólica na África e já realiza várias audiências, atende muitas pessoas. Nossa audiência atrasou uma hora, e ainda assim, estava bem-humorado e ouviu cada Bispo com muito carinho.

Da mensagem que o Papa dirigiu, o que mais o marcou?
Dom Manoel: Muito me marcou o que disse o Santo Padre em relação à proximidade. De fato, tenho tentado ao longo do tempo fazer isso: estar próximo de Deus, com espírito de oração e de fé, de comunhão com meus irmãos padres e com os leigos, estar muito próximo do povo, tentando descobrir sempre quem é o meu próximo. Em nossa diocese, nossos próximos são aqueles que mais sofrem. Ainda não criamos uma pastoral orgânica, onde todos juntos possam traçar o mesmo caminho, porém, já temos tentado com a ajuda dos padres e coordenadores de pastoral. Os próximos são os moradores de rua, os indígenas, os quilombolas, os caiçaras, são aqueles que ainda não descobriram o sentido da fé verdadeira que transforma o coração e que dá a felicidade. Somos chamados a sermos próximos dos nossos irmãos, para levar essa Boa Nova. Como ressaltou Francisco, o mais próximo do Bispo são os padres, os quais devemos cuidar com muito carinho, com muito amor. Em sua mensagem, o Papa Francisco ressaltou a peregrinação que os Bispos fizeram ao túmulo de São Pedro, referindo-se como “Troféu” da Igreja de Roma e afirmando que lá os senhores confessaram a mesma fé do Apóstolo.

Qual a importância da comunhão entre os Bispos diocesanos e o Romano Pontífice?
Dom Manoel: O tema principal que permeou estes dias de formação foi a sinodalidade, isto é, caminhar juntos. Por isso, não é possível um Bispo que não caminhe junto com o Papa, não é possível uma Igreja que não caminhe junto com o Bispo, que deve estar em constante sintonia com o Papa. Este será sempre um ponto que insistirei: em nossa diocese, precisamos caminhar sob a orientação do Santo Padre, sob a orientação da Igreja. Os leigos também precisam caminhar juntos. Me entristece o coração quando vejo leigos que criticam o Papa, sem saber ou ter a mínima noção do seu desejo de servir a Igreja, de servir os mais pobres, de ser uma Igreja em saída. Os Bispos, os
padres, os seminaristas, os leigos, são chamados a caminhar com ele. Podemos discordar, se de fato aprofundarmos num tema, mas não temos o direito de criticar ou diminuir a missão do Romano Pontífice, que faz tudo com muito amor. Isso percebemos claramente estando aqui em Roma. Que com a graça de Deus possamos caminhar sempre juntos. A Igreja com os padres, Bispos e o Santo Padre.

Quais experiências ou acontecimentos do Curso de Formação para os novos Bispos o senhor destacaria?
Dom Manoel: O curso todo foi muito intenso, com temas profundos, sempre na linha do pensamento do Papa Francisco. Trabalhamos temas como comunicação, laicato, espiritualidade, administração diocesana e compromisso
com a ação social. Foram dias de encontro, de muita oração: orações muito bem preparadas, em diversas línguas, muito bem cantadas, foi muito agradável! Éramos de muitos países, com Bispos vindos do Iraque, do Oriente Médio, da Europa, da América, da África, e como que num Pentecostes, todos procurávamos nos comunicar de alguma forma, com uma língua ou outra, com sinais. O espírito de oração era constante, rezamos muito juntos, procurando
discernir a vontade de Deus. No último dia, uma leiga partilhou conosco a experiência de trabalho realizado junto aos moradores de rua, usuários de drogas, com aqueles que vivem na noite de Roma, nos abrindo os olhos para
que possamos encontrar momentos fortes para ajudar as pessoas na busca de Deus. Tivemos também um momento de retiro, no penúltimo dia, com o sacramento da penitência, onde todos os Bispos puderam se confessar. A cada
dia um cardeal presidiu a Santa Missa, tendo uma sido uma experiência muito bonita, já que os cardeais,  representando a Igreja do Mundo todo trouxeram mensagens de encorajamento aos novos Bispos. O Papa Francisco utilizou de três verbos para referir-se a proximidade do Bispo para com o seu povo: ver, cuidar e curar.

Passado um ano do exercício do seu ministério episcopal na Diocese de Registro, como o senhor vislumbra a aplicação desse desejo de Francisco em nossa realidade?
Dom Manoel: De fato, o Papa Francisco sempre insiste com os verbos. Eles são formas de ação. Ver, cuidar e curar é o que a Igreja de Registro sempre procurou fazer. Ver, estar perto do povo em suas necessidades, ajudando a
encontrar o caminho. Cuidar, sobretudo daqueles que sofrem, são marginalizados, que passam por momentos de dificuldade. E o curar, na preocupação com os doentes, que não são apenas físicos, mas também espirituais. Todos, de alguma forma, sofremos de doenças espirituais que acabam por nos fazer perder o caminho. Por isso, a nossa preocupação em ver, cuidar e curar o nosso clero, os nossos agentes de pastoral, os leigos, que são instrumentos de Deus para os outros, mas que também precisam ser cuidados e ter um olhar voltado para si mesmos. Que pastores e ovelhas estejamos todos juntos nessa missão de animar um ao outro a viver melhor a sua vocação: ouvir as  necessidades, cuidar da realidade do outro, ajudando a ter um especial cuidado com os dons que recebemos de Deus, curando os irmãos que estão enfermos física e espiritualmente. Desta forma, estaremos cumprindo o papel que o Santo Padre entregou a nós nesta manhã.

Por: Rubens da Cruz e Flavia Nascimento.