Sem igual

Sem igual

Por: Pe. Luís R. Batista C.Ss.R.

O Brasil é no mundo um dos campeões da desigualdade social. Essa é uma realidade que perdura há séculos. A Imobilidade Social que se encontra aqui é uma barreira intransponível para muitos que têm sua trajetória de vida marcada desde seu nascimento. Dificilmente alguém que nasce na extrema pobreza consegue vencer esse círculo duro de romper. É uma luta inglória e pouco se viu até hoje na direção de mudar essa triste realidade. Por mais que se lute, as forças contrárias jogam para baixo mantendo a grande maioria na base da pirâmide da sociedade.
Nos países em que se constata mais Mobilidade Social em vez de Imobilidade Social, as pessoas conseguem, por esforço próprio e pelas políticas públicas, ter ascensão social e cultural. A chave da mudança encontra-se na educação de qualidade, por conseguinte, na saúde, na qualificação profissional e na qualidade de vida como um todo. Pela distribuição de renda que possibilita a alteração nos arranjos sociais, as pessoas têm espaços e oportunidades
para crescer, aprimorar e se desenvolver. No entanto, nosso país é rico em recursos naturais e poderia colocar seu povo num patamar bem diferente do que se encontra em nossos dias. A nossa capacidade para a produção de riquezas, como alimentos e bens de consumo, daria para garantir uma situação bem mais confortante. Mas a lógica da exclusão e marginalização não dá trégua.
Durante a pandemia, a barreira social torna-se ainda mais evidente. A desigualdade social assola sem piedade a todos, sobretudo os mais pobres que precisam sair de casa para trabalhar, expondo-se nos transportes coletivos e nos ambientes de trabalho. Entre os pobres, pretos e pardos representam números significativos no Brasil. A Imobilidade Social se firma ainda pelo racismo estrutural e pelo machismo. Para vencer tantos obstáculos, não basta o discurso ‘é preciso sonhar’, porque as condições para uns e para outros são bem diferentes. Mulheres e negros têm condicionantes históricos no Brasil, seja pela cultura machista persistente ou pela escravidão, até 1888.
Na constatação da desigualdade, o trabalho em casa (Home Office) ilustra o argumento que muitos podem manter o afastamento social, necessário para conter a pandemia. As reais condições para essa modalidade de trabalho dariam para afirmar que no Brasil o sol nasce para todos, mas em condições distintas. Para eu desempenhar o meu trabalho em casa, muitos saem e se expõem, seja nos transportes ou nas atividades consideradas essenciais. Os profissionais de saúde principalmente.
Mas as diferenças sociais e culturais têm razões estruturantes. O modelo econômico e financeiro a que nos submetemos possibilita a concentração de renda nas mãos de poucos, pela lógica da exclusão que privilegia o mercado e o lucro, resultando na frustração, na degradação humana, social e cultural, em diversos aspectos: miséria, fome, violência, perseguição, morte etc. Assim, a transformação desse cenário humano seria por uma agenda
proativa na sociedade, que os governantes atuais não propõem, a começar pela educação e formação da consciência crítica, libertadora e aberta, que vá ao encontro das necessidades e desejos das pessoas. Que o compromisso pela justiça e respeito à dignidade humana seja soberano.