Pão em todas as mesas

Pão em todas as mesas

Por: Pe. Luís Rodrigues Batista, C.Ss.R.

Cresce o número dos que enfrentam a dura realidade da fome no Brasil. Moradores em situação
de rua aumentam a cada dia. As justificativas para esses escandalosos índices: as
consequências da pandemia que ainda não acabou. Além da morte de uma multidão, a
pandemia deixou rastros de miséria e desafios a serem superados pelos governantes e,
principalmente, pelas famílias que sentem na pele a dor das incertezas e os infortúnios a cada
amanhecer. Temos de recordar que todas essas mazelas sociais vinham antes do Coronavírus.
A guerra da Ucrânia nem passava pela nossa cabeça.
O ideal de pão em todas as mesas não podemos perder de vista. Chamamos de esperança para
a humanidade e para os que promovem a fraternidade entre os povos. Pão é uma expressão
simbólica para designar a nossa vida. Entendemos muito além de saciar o estômago. Tomamos
o pão como metáfora para a justiça, a paz, a ciência, a saúde, a educação, a cidadania etc.
Esses diversos tipos de pães têm sido escassos. O estado brasileiro torna-se um ineficiente
provedor por questões administrativas e políticas. O povo fica à deriva, isto é, sem pão e sem
vida. Resta-lhe apenas a esperança.
Pão em todas as mesas – um ideal a ser buscado – nos remete ao banquete oferecido pelo
criador como expressão do seu reinado, onde todos têm acesso como vida em abundância. É
necessário que busquemos as causas da ausência da variedade de pães. As estruturas injustas
têm de ser transformadas. A lógica da exclusão imposta pelo mercado precisa ser superada. As
divisões por ideologias têm de ser vencidas. Os governantes precisam assumir o que lhes é
devido. As opções em favor da população têm de ser coerentes. O estado tem deveres a
cumprir. Não pode se tornar inimigo da população e voltar as costas às dificuldades encontradas.
Temos de entender que os governantes precisam privilegiar o povo.
As famílias sem mesa, sem casa, sem lar para partilhar o pão não conseguem repartir a alegria
da vida e são vítimas das desigualdades sociais. A falta de pães é uma denúncia de que os
sistemas humanos e sociais estão falidos, são ineficazes para prover a vida, como também as
instituições, viciadas e mofadas, não estão mais adequadas para servir com presteza os mais
vulneráveis. Os sistemas e instituições de ordem econômica, política e ideológica necessitam de
mudanças profundas. A tarefa, portanto, é que elas sejam transformadas, sejam fecundas e
geradoras de vida, jamais de mortes.
Além da vontade de saciar a fome que aniquila, temos pressa que chegue o dia para a
superação das desigualdades. Trata-se de criar oportunidades para as pessoas. Que tenhamos
consciência do processo histórico que submete a tantos ao peso das marginalizações sociais,
raciais e culturais. Que os pães sejam repartidos fraternalmente, e não sejam servidas apenas
migalhas para aqueles que deveriam participar da mesa, do banquete da vida. Racismo
estrutural, segregação social, diferenças ideológicas; enfim, tudo o que serve de obstáculo para
a fraternidade, deve ser superado.